Atenção: direito em construção
Quem é você?
Eu sou O Bicho (de Bandeira)
que habita na imundície e sobrevive
do resto da ceia de domingo
das casas dos burgueses de plantão.
Eu sou O cão sem plumas
(de Cabral de Melo Neto)
que vive do rio, e também é rio,
que convive com o homem,
mas sem um status humano.
Eu sou a Meire (de Laerte)
que quebra o espelho opressivo
teimoso em produzir um transfobismo,
que mata, que apaga, que destrói.
Eu sou Metamorfose Ambulante (de Raul)
que extrapola o rol de autodefinições
por saber que se encontra em constante
poíesis
e amanhã será um outro
alguém.
Eu sou a Benedita (de Elza Soares)
que desponta altiva na esquina da vida,
que desmonta o cerco da bela adormecida,
o qual quer acordar um Dito,
que, na realidade, nem veio da cegonha.
Eu sou a Máscara (de Pitty)
que desmascara a ideia do aceitável
e se permite ser estranha, ser horrenda,
ser bizarra, mas sempre em genuinidade.
Eu sou o Desabafo (de MC Xúxu)
que repudia o preconceito,
que exige o necessário respeito,
em favor de um real coexistir.
Eu Sou como sou (de Aléx Góes),
que isso baste.
O que o direito pode fazer por você?
O direito? Que direito?
Ora, ele é mentiroso!
E usa da imagem da Justiça
pra dizer que promove igualdade.
O direito me dá vida, no papel
eu sou pessoa.
O direito me mata, no concreto
eu sou ninguém.
O direito exige meu RG,
mas rejeita minha identidade.
O direito sacraliza meu corpo,
e demoniza suas possibilidades.
O direito não reconhece meu nome.
O direito apaga minha imagem.
O direito não me quer por perto,
ele tem e deseja privacidade.
Mas eu hei de construir um novo direito!,
pois talvez não vindo de um humano,
ele preze pela efetiva diversidade.