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Mais humanidade, por favor!

  • Alexander Beltrão
  • 26 de mar. de 2017
  • 2 min de leitura


Muitas vezes, imersos em livros, periódicos e macetes didáticos, somos lobotomizados por um academicismo inflexível e frio, com forte apego à técnica e ao método e marcado por avaliações quantitativas, pressões constantes (de professores, colegas, amigos, entre outros) e variadas manifestações de vaidade. O foco que deveria ser na formação pessoal e cidadã (obviamente que não descolada da boa técnica) se transmuta e centra-se apenas na formação de um bom teórico e profissional.


O problema desse academicismo é que ele, embora costurado sob o véu da frieza, ignora que estamos falando de pessoas tanto enquanto sujeitos ativos como passivos do processo de formação e aplicação do conhecimento. Pessoas que pressionadas se veem em meio a crises de ansiedade, pânico e surtos depressivos¹. Pessoas que quando atendidas por esses “grandes técnicos” se veem tratadas como objetos e ignoradas em sua individualidade. Essas questões são ainda mais pertinentes quando falamos de uma profissão jurídica, visto que o fim do Direito é lidar com problemas sociais, e, por conseguinte, lidar com pessoas: pessoas complexas, plurais e que possuem suas expectativas e angústias em relação a vida. Seja no banco dos réus, seja numa audiência de homologação de divórcio, o que está em jogo é a vida e os sentimentos de alguém que merece respeito não enquanto mero receptor de uma mercadoria (prestação profissional), mas como indivíduo e que traz em si intrinsecamente uma condição de humanidade que não pode ser negada.


Especialmente em nosso país, onde se concentram mais de mil cursos de Direito (aproximadamente 50% dos cursos de Direito do mundo), forma-se uma legião de concurseiros, zumbis de vídeo-aulas, adictos de cafeína e resumões. Muitos deles ansiosos para ingressarem na (neo)aristrocracia do serviço público. Basta comentar em uma roda de conversa que se é estudante de Direito e surge o questionamento “Qual concurso você pretende prestar?”. Pensa-se na remuneração, no plano de carreira e até nas viagens, mas não nas pessoas ou na função social da profissão.


No geral, acredito que a maioria dos estudantes e profissionais do Direito compartilha das ideias que eu tentei esboçar incipientemente nesse texto. Mas eu os convido a ir além: a se desafiarem, a tentarem no cotidiano questionar essa estrutura e não reproduzi-la, a sermos bons profissionais, mas, antes de tudo, boas pessoas, reconhecendo no outro uma extensão de nós mesmos. Todos nós compartilhamos de uma mesma essência e de uma mesma condição: a humanidade.


¹Obs.: não é errado sofrer de alguma dessas coisas ou de outras, não é errado não dar conta de tudo, não é errado não ser perfeito, não é errado não saber tudo e errar. Ser pessoa é tudo isso e mais um pouco. É se construir e se reconstruir em todos os momentos. E se eu pudesse te dizer algo seria: você não está sozinho, fale com seus amigos, sua família ou com qualquer pessoa. Todos nós passamos por momentos de angústias e desânimo, dúvidas sobre o que queremos ou sobre o que devemos fazer. Nada disso é anormal, pelo contrário, é mais natural do que pensamos. Se valorize, se ame e se permita ser humano e ser falho.

 
 
 

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