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Pílulas da perfeição?



Ariana, Delaney, Jasper, Leigh, Nathanael, Eben, Blue, Peter, Rahiem, Lucas, Matthew e Lily. Estas são doze das 3,5 milhões de pessoas que, atualmente, utilizam medicamentos estimulantes. Esses são dados fornecidos pelo documentário Take your pills, que trata da prescrição indiscriminada de remédios que, supostamente, aumentam a concentração. O tema é mostrado por meio da narrativa das experiências de pessoas diagnosticadas com Transtorno de Déficit de Atenção com Hiperatividade (TDAH).


Take your pills, produção da Netflix, faz referência a medicamentos que oferecem a estudantes, atletas, programadores e a diversas outras pessoas, a possibilidade de executarem muitas atividades, em curtos períodos e com expressiva qualidade. Os resultados proporcionados por remédios como Aderall® e Ritalina® são narrados pelos próprios usuários, bem como por profissionais de algumas áreas, como medicina, psicologia, história e jornalismo.


Concomitantemente, destaca-se que o recurso aos ditos remédios estimulantes não é um fenômeno recente: os registros dos primeiros usos dessas substâncias datam de 1937 (dado fornecido pelo próprio documentário). E há uma explicação para isso: conforme o jornalista Alan Schwarz, autor da obra ADHD Nation, as pessoas sempre almejaram tanto a aumentarem seu desempenho, nas mais diversas áreas, quanto a não decepcionarem umas às outras. Por esses motivos, cada geração desenvolveu seu próprio método de sobressalência. Vive-se, atualmente, na era do recurso às pílulas estimulantes.


Paralelamente, indica-se a ocorrência de uma compatibilização entre os discursos de empresas produtoras de substâncias estimulantes e os anseios de uma sociedade permeada pela competitividade. Enseja-se, primordialmente, a potencialização da mente humana e maior precisão no desemprenho de tarefas cotidianas, objetivos esses alcançados por meio da ministração da anfetamina, um dos principais princípios ativos presentes nos medicamentos para TDAH.


Contudo, cabe tecer duas considerações. A primeira delas: o número de pessoas diagnosticadas com TDAH tem crescido vertiginosamente nos últimos anos. Há que se questionar se, realmente, esses diagnósticos condizem com a condição médica dos sujeitos, ou se são apenas subterfúgios para se ter acesso a substâncias que os auxiliariam a alçar a tão almejada perfeição, traduzida no aumento de rendimento. Já a segunda consideração pode ser assim descrita: parece haver um conflito ético no que se refere à receita médica de anfetamina, devidamente legalizada, e a criminalização de um composto muito a ela parecido, a metanfetamina, cuja comercialização suscita o encarceramento de inúmeras pessoas ao redor domundo. Deve-se destacar que a metanfetamina e a anfetamina são componentes quimicamente semelhantes, que divergem entre si apenas pelo local onde são produzidos: o primeiro possui origens clandestinas/ilegais.


Não resta dúvidas de que a tendência, cada vez maior, de uso de substâncias estimulantes tem como causa a pretensão dos seres humanos de se sentirem invencíveis, autoconfiantes, seguros, poderosos. Trata-se de uma verdadeira caçada pela perfeição. E, para alguns, esta, que foi buscada incessantemente ao longo da história, se encontra em pequenas pílulas.

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